Pais postam fotos e informações em nome da criança, o que pode se tornar motivo de constrangimento no futuro, além de dar brecha para problemas de segurança no presente.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou um dado surpreendente – e bastante preocupante: 40% das mães entre 18 e 34 anos criam perfis em redes sociais para filhos com menos de 1 ano e outros 7% fazem o mesmo quando a criança completa 2 anos. O levantamento foi feito pela Gerber, com cerca de 1000 mães com filhos de até 2 anos.Não se trata de postar fotos dos filhos na sua própria conta pessoal: mas de gerar um perfil em nome da criança. “Ao fazer isso, o pai tira o direito de escolha do filho e ainda deixa uma herança digital”, explica Sandra Paula Tomazi Weber, especialista em Direito Digital e Diretora Financeira do Instituto iStart, que tem como missão promover a Ética e a Segurança Digital para as famílias brasileiras.
O grande problema é que tudo o que é colocado online fica na rede para sempre: não é possível ter um controle de quem irá replicar as informações e de todos que terão acesso ao que você posta se não forem tomados alguns cuidados em relação à privacidade. Por isso, antes de publicar qualquer foto ou notícia sobre a criança (principalmente em nome dela) a grande questão à qual os pais devem responder é: será que no futuro o meu filho vai gostar de ver sua vida inteira exposta na internet?
Como a criança não tem capacidade de escolher o que quer mostrar (ou não) na rede, os pais devem considerar que estão fazendo uma escolha muito pessoal por ela. “Isso tudo pode impactar na formação da identidade da criança”, explica a psicóloga Paula Hintz Baginski. E não é só isso: criar um perfil em nome de uma criança pequena fere questões legais. A maioria das redes só permite usuários maiores de 13 anos de idade. “Que exemplo o pai quer passar para o seu filho infringindo essa regra?", questiona Sandra.
É claro que essa geração – que já tem até o próprio nascimento documentado na rede – vai desenvolver um tipo de relação com a tecnologia bastante diferente de seus pais. Mas é justamente pelo fato de o contato com o mundo virtual ser inevitável (e cada vez mais precoce) que cabe aos pais a missão de preservar as crianças e ensiná-las sobre os limites entre o público e o privado. “Parece que vai ser muito mais difícil para esta geração criar um discernimento do que é ter privacidade. Possivelmente, seus integrantes vão entender como algo natural ser invadido e invadir os espaços de um e do outro, com pouca capacidade de dar e respeitar limites”, explica Paula.
Segurança em primeiro lugar
Informações referentes ao lugar onde você mora, à escola onde seu filho estuda e até à própria composição familiar podem servir como subsídio para sequestros, cyberbulling e até pedofilia. “Os pais precisam refletir mais sobre intimidade e entender as consequências da exposição. Se você divulgar muitas informações pessoais, pode, sim, estar correndo risco de que isso seja usado contra você ou seu filho, seja agora ou no futuro”, explica Sandra. Para Ivone Milani, coordenadora de Tecnologia do Colégio Rio Branco, em São Paulo, a grande missão dos pais é ter bem definido o que pode se tornar público e que deve ser restrito à intimidade: “Nesta questão, devemos ser radicais: sua vida não é reality show”, ressalta.
Ivone cita seu próprio exemplo: ela tem dois netos morando em Luxemburgo e é graças à internet que ela consegue acompanhar o dia a dia e as conquistas dos meninos por meio das redes sociais e do Skype. Só que ela toma alguns cuidados. “Utilizo filtros que possibilitam esse contato só entre nós, preservando a privacidade da família”, conta.
Uma questão de memória
É mais do natural querer compartilhar com amigos e familiares as gracinhas e os progressos do seu filho: a primeira vez que ele usou o penico, quando se lambuzou inteiro comendo a papinha sozinho ou quando deu um jeito de arrancar a fralda por conta própria. E é uma dádiva da tecnologia poder dividir esses momentos com pessoas queridas, que muitas vezes estão longe. Só que algumas situações que você considera engraçadinhas hoje podem se tornar motivo de constrangimento quando ele for maior. Tudo bem que você acha uma graça aquela foto dele pequenininho, nu em pelo, em plena praia... Mas será que ele vai ficar feliz ou se sentir à vontade de compartilhar essa imagem com seus futuros colegas de classe, por exemplo?
“Esses pais estão formando um legado de informações daquele jovem que vai assombrá-lo no futuro e por toda sua vida: eles decidem hoje o que será a própria reputação digital do filho e isso é muito sério”, alerta Sandra. Mesmo que dê para apagar uma foto constrangedora ou tirar do ar um vídeo que cause embaraço, dificilmente dá para apagar o sentimento de se sentir exposto ao ridículo. E é isso o que os pais devem ter em mente na hora em que fizerem cada post.
Como se proteger
- No Facebook: crie grupos incluindo apenas pessoas de confiança e lembre-se de que é possível editar a privacidade de toda a informação que for postada na sua linha do tempo.
- No Twitter: dá para para bloquear seus tweets de modo que apenas os seus seguidores possam visualizá-los.
- No Instagram: deixe sua conta no modo privado. Assim, só quem você autorizar a lhe seguir terá acesso às suas fotos.
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